Este é o primeiro artigo da série Conteúdo Livre, onde apresentaremos uma variedade de recursos educacionais, culturais, científicos e etc distribuídos sob licenças livres, e que julgamos merecedores de mais atenção no nosso meio universitário.
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Qualquer estudante universitário brasileiro pode atestar que o livro universitário é um recurso em perpétua escassez. O custo exorbitante destes materiais, a quantidade crescente de alunos, a necessidade de constante atualização para novas edições, e a grande variedade de livros que o aluno precisa ler ao longo de sua formação faz com que a aquisição de quantidades ideais de cópias exija um orçamento infinito para as bibliotecas universitárias.
Graças aos direitos autorais, o acesso aos livros por meios digitais também apresenta empecilhos. As bibliotecas digitais das universidades, além de possuírem acervos muito inferiores aos de suas contrapartidas físicas, têm de adotar medidas para conter o compartilhamento de cópias não autorizadas, fazendo o acesso ao conteúdo digital tamanha inconveniência que a luta por cópias físicas é ainda preferível.
Tudo isso leva os estudantes a contrabandear cópias digitais em segredo aberto entre si, o que torna a “pirataria” a maneira mais acessível e conveniente de dar continuidade à sua educação.
Em reconhecimento a essa bizarra (e cômica) realidade, somos levados a nos perguntar por quê a adoção de conteúdo didático aberto não é a norma em cursos universitários. Felizmente, existem iniciativas para a produção de livros-texto de alta qualidade e livremente acessíveis. Uma tal iniciativa particularmente bem sucedida é a OpenStax.
A OpenStax é uma organização sem fins lucrativos que faz parte da Universidade Rice nos Estados Unidos. Seu objetivo é a transformar a educação através da acessibilidade, o que é feito através da produção de livros-texto e materiais complementares disponibilizados gratuitamente e sob licenças abertas.
O website da organização conta atualmente com 42 livros para ensino superior e médio, que abrangem as disciplinas iniciais de cursos de todas as áreas do conhecimento. Os livros são escritos e revisados por professores com experiência em ensino na área, e contam com exercícios, resoluções, vídeos e simulações interativas (para fenômenos físicos e conceitos matemáticos, por exemplo).
Para acessar os livros, basta visitar o website e fazer o download do PDF, ou ler no próprio site. Também é possível comprar cópias físicas (o que infelizmente é financeiramente inacessível para brasileiros).
O conteúdo e abrangência do material da OpenStax não perde para os livros-texto proprietários comumente utilizados nas disciplinas básicas de cada curso. Mas sem dúvidas o melhor aspecto desse conteúdo é a liberalidade com a qual ele pode ser distribuído e modificado: a licença CC-BY (sob a qual é distribuído) te garante total liberdade sobre o conteúdo, contanto que você atribua os autores em suas redistribuições e variações.
Infelizmente, os livros-texto da OpenStax possuem um empecilho óbvio à sua missão de acessibilidade: a grande maioria só está disponível em inglês (o University Physics está em polonês também). Fato é que atualmente muitos professores já adotam livros que só estão disponíveis em inglês, mas isso ainda assim é uma grande desvantagem para o OpenStax.
O material da OpenStax já está sendo amplamente adotado nos EUA e gradualmente em outros países anglofones, mas sua missão de “transformar a educação” é limitada por sua disponibilidade em somente uma língua. A adoção destes livros já gerou economias milionárias nos Estados Unidos, mas os países que mais beneficiariam dessa acessibilidade e economia são os em desenvolvimento, como o Brasil.
Temos certeza que o cenário descrito na introdução deste artigo é familiar a todo estudante, e não é novidade a nenhum professor. No entanto, este é o status quo há tanto tempo que hoje temos isso como normal, assim como acontece com o uso de software proprietário nas universidades. Precisamos nos dar conta novamente de que essa situação é aberrante, e uma maneira de atacá-la é com a criação e difusão de livros-texto livres como os da OpenStax.
Fica, portanto, o nosso apelo e sugestão às instituições de ensino superior, especialmente as públicas: adotem, traduzam e adaptem o OpenStax à realidade brasileira. Projetos de tradução e adaptação deste material trariam um grande benefício à comunidade acadêmica, na medida que disponibilizaria recursos de alta qualidade acessíveis por todos os estudantes, e tiraria das bibliotecas um pouco do ônus de comprar e manter um grande número de livros didáticos para disciplinas básicas. Afinal, a permissão de redistribuir e modificar nós já temos.
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